segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Internacionalização do Mundo

por Cristovam Buarque

Durante debate em uma Universidade, nos Estados Unidos, fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia. O jovem americano introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para uma resposta minha.

De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso.
Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a Humanidade.
Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da Humanidade.
Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação.
Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês, decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado.
Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniam o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a Humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza especifica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.
Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil.
Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o pais onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da Humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver.
Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.

fonte: http://www.almacarioca.com.br/cro38.htm

sábado, 8 de novembro de 2008

Crônicas : O Comunismo Social Democrata - Artigo de opinião

por Fernando Jorge Matias Saiote

O Comunismo Social Democrata que se prega - sem noção disso - no mundo globalizante de hoje em dia, traz-me ao pensamento várias idéias que, para muitos, poderão ser vistas como anarquistas ou, quiçá, extremamente nacionalistas.

O fato de, cada vez mais, se escavar o fosso existente entre pobres e ricos, de procurar fazer política através dos preceitos da religião - não interessa qual -, de existirem países e governantes que se auto-consideram donos da razão e que se auto-excluem das decisões tomadas pelas Nações Unidas (fantoche nas mãos desses tais) por se considerarem muito acima dessas mesmas decisões, torna este pedaço de terra que todos os dias pisamos, num sanatório. Fazem-se leis que não se cumprem e leis que subjugam leis que não se cumprem, confusão total. Julgam-se criminosos de guerra, a quem se aplica a pena de morte pelas atrocidades cometidas, mas quem o faz permite que outros iguais permaneçam com as rédeas do poder. O mundo é anárquico e eu também o sou... mas comedidamente. O mundo é nacionalista e eu também o sou, tanto quanto anárquico.
Se olharmos a religião - aqui nas palavras de um agnóstico -, encontramos nos escritos, ditos de profetas, exemplos e facetas dos políticos que, repetidamente ao longo da história, têm delineado a forma como andamos, comemos, falamos, ouvimos e - imagine-se - fazemos sexo. Jesus Cristo, por exemplo e de acordo com os relatos bíblicos, terá sido o primeiro Comunista, na verdadeira acepção da teoria de Marx e Engels, por outro lado, a Igreja Católica (instituição) ignora e repudia o Comunismo.

O Corão defende o mesmo que a Bíblia com outros nomes e tempos, mas com os mesmos locais, e apóia, na pessoa de quem o estuda, a política, sendo que, por vezes, é levado ao extremismo humano, criando diferenças (também existentes até há bem pouco tempo na religião Cristã) entre raça, sexo, nacionalidade...
O mundo é Comunista porque os líderes dizem que temos de partilhar ciência, pão e vida.

O mundo é Social porque cada país é uma grande cidade e todas as cidades juntas são uma sociedade, a sociedade humana.
O mundo é Democrata porque deixa que cada um escolha a forma como vai matar o próximo.
Mas o mundo também é extremista porque necessita de leis que discriminem, sem as quais não haveria necessidade de partilhar o que quer que fosse.
Será possível entender?

fonte: http://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=34960